SOBRE O SOFRIMENTO E A DEPRESSÃO

Tenho um amigo que, há cerca de dois anos, foi diagnosticado com 'hepatite C', uma doença que afeta de três a cinco milhões de americanos e é a principal causa para transplante de fígado. Apesar do susto inicial, buscamos informações e descobrimos que atualmente de 40 a 50% dos pacientes podem ter o vírus removido. No entanto, o tratamento atual para doença, à base dos medicamentos alfa interferon e ribavirina, produz uma alta taxa de efeitos colaterais psiquiátricos. O principal deles é a depressão. E, como não poderia deixar de ser, meu amigo foi fortemente abalado pela tristeza, pelo desânimo e pelo desejo de "por fim" àquele sofrimento". Apesar da proximidade da família, sentia-se isolado e tentou o suicídio por duas vezes, até que teve o primeiro resultado negativo para detecção do vírus da 'hepatite C' e pode reduzir os remédios, voltar a trabalhar e melhorar seu estado geral.

Preocupado com ele e lembrando de outras tantas pessoas que conheço e que demonstram sinais da depressão, acabei chegando a um relato publicado em um blog que, infelizmente, não mais existe (http://diariodeumahepatite.blogspot.com/). Por isto não tenho o nome do autor. Mas suas palavras, vistas sob o peso de quem sofre de uma doença que já foi terminal, nos levam a pensar na maneira como encaramos a própria vida, como convivemos com a tristeza e, principalmente, como a depressão é alimentada pela "pena de si mesmo". Acompanhe abaixo e deixe seu comentário.

"Ando sem maiores novidades. A médica voltou de férias e a conduta é a mesma: aguardar os resultados dos exames de carga viral. Caso se confirmem (o que é o mais provável), o tratamento será suspenso e ficaremos no aguardo de "bom tempo". Caso contrário (o que é pouquíssimo provável), seguimos com o tratamento. Ontem tomei a 30ª aplicação. E já estou tão acostumado a passar mal, que vou estranhar o provável bem-estar da ausência dessa química no organismo.

Como estou? Não diria que esteja no ápice da felicidade, dando cambalhotas e fazendo piruetas, ou com "vontade de beijar o português da padaria". Mas, tenho buscado exercitar a paciência e entregar ao Universo as decisões. Claro, tentando fazer a minha parte. Dra. Andréia insiste (assim como Denis Rivera) que eu estou com depressão. Eu já tive depressão e é uma das piores doenças (ou seja lá que porra for) que se pode suportar. Dia e noite e a cada segundo, uma mão de aço aperta, estrangula o seu coração e a sua alma e a sua visão das coisas, presentes, passadas e futuras é totalmente negra. Nenhum fiozinho tênue de esperança surge para trazer um pouco de alívio. Ao contrário, sem providências médicas, você piora a cada dia e a escuridão vai se fechando em torno de você, tornando-o incapacitado para qualquer atividade produtiva.

Não tenho dúvidas: serei o primeiro a buscar os recursos da medicina, se achar que estou em processo de depressão. Por enquanto, acredito que estou num processo de dor e tristeza, comum e natural ao ser humano, quando ele se descobre portador de uma doença grave e de difícil cura".

E a vida não é assim. "O que dá pra rir, dá pra chorar...". O sofrimento, a dor são necessários (indispensáveis, mesmo) para o nosso auto-conhecimento, para o nosso crescimento, mas incomodam por demais as outras pessoas que, na fuga desesperada das suas próprias dores e dos seus próprios sofrimentos, terminam por se afastar justo no momento em que o amigo, o filho, o irmão, a mulher, o marido, o pai, a mãe, ou seja lá quem for, mais precisa.
A cultura ocidental não nos permite vivenciar os momentos de tristeza. Somos condicionados a sermos felizes 24 horas por dia e, quando não o somos, ouvimos das pessoas: "saia dessa, rapaz", "vá se divertir, sair com os amigos" e essas coisas. É quase vergonhoso estar triste. É preciso estar sempre aparentando uma felicidade, um equilíbrio de fachada para contentar as pessoas.


O problema do mundo é que a ordem é não suportar a dor. Qualquer tristezinha lá "na casa de nossa senhora", e lá vêm os anti-depressivos, os relaxantes, etc. Não sou contra de jeito nenhum. Até pelo contrário. Sempre que vejo algum amigo ou conhecido em processo de depressão, recomendo procurar um profissional e tomar remédio, porque depressão é um mal seríssimo e, felizmente, existe a farmacologia aí para aliviar esse desespero. Depois que estiver mais inteirinho, vai largando os remédios (as muletas) e volta a andar com as próprias pernas.

Eu não estou assim. Durante os 2 ou 3 primeiros dias pós picada, fico extremamente sensível e tristonho. Sem ânimo físico ou emocional para nada. Exceto ler. Depois, as coisas voltam ao normal e consigo trabalhar, fazer as coisas que tenho que fazer, de forma perfeitamente normal, sem idéia fixa na doença e nos problemas dela decorrentes. Estou triste, sim. E preciso conviver com a minha tristeza.

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