CHICO XAVIER: RELATO DE UMA AMIGA DE 40 ANOS

Por quase 40 anos, Dinorá Cândida Fabiano acompanhou bem de perto a vida de Chico Xavier. Apresentada a ele por um casal de amigos para quem trabalhava anteriormente, começou a ajudá-lo nos afazeres domésticos e no preparo de suas refeições. Nos últimos tempos, quando a saúde do médium já se encontrava fragilizada, Dinorá passou a cuidar dos horários dos remédios e a preparar alimentos mais leves, conforme a prescrição médica. “Ele sempre foi muito disciplinado, seguia à risca tudo que o médico falava. Chico dizia que a comida deveria ser algo que não lhe pesasse no estômago”, afirmou.

Para as pessoas em geral, é impossível acreditar que Chico Xavier também tinha seus momentos de bronca. Porém, segundo Dinorá, ele dizia que tudo tinha sua hora certa e gostava que as pessoas ao seu redor seguissem suas recomendações. Quando algo não lhe agradava, chamava a atenção com toda a educação, para que ninguém se sentisse ofendido. “Certa vez, mudei os móveis de lugar sem lhe consultar. Ele esperou passar alguns dias e, durante o almoço, começou a contar um caso de um amigo, em Pedro Leopoldo, que gostava de trocar os objetos de lugar. Disse que, um dia, Emmanuel lhe explicou que toda pessoa que fica trocando as coisas de lugar muda de humor a todo momento. Entendi o recado e fiquei sem graça”, contou.

Nesta entrevista, Dinorá fala um pouco mais sobre o dia-a-dia do médium mineiro, seu relacionamento com ele e as lembranças que guarda desses vários anos de convivência.

Quando foi a última vez que viu Chico Xavier?
Dinorá Cândida Fabiano – Foi no domingo em que ele desencarnou. Chico tomou banho com a nossa ajuda e comeu um lanche. Depois, disse que estava com muito sono e precisava dormir, isso por volta de 18h30. Pensamos que era cansaço do trabalho do dia anterior e, também, pelo fato de ter dormido pouco durante à noite. Aliás, ele sempre dormiu pouco tempo, uma média de três horas. Ninguém percebeu nada e, quando voltei para casa, o filho dele me ligou logo em seguida para dar a notícia de sua passagem. Eu mal acreditei. No sábado, ele estava muito alegre, conversou bastante, estava esperto. Foi ao centro à noite, olhou alguns livros e disse que a luta havia sido grande, mas tinha valido a pena. Chico contou casos e falou que estava muito feliz por estar no meio das pessoas de quem gostava.

Qual a maior lembrança que a senhora guarda dele?
Dinorá – Só tenho lembranças do Chico com aquele sorriso alegre, sinto-o vivo até hoje. Para mim, ele foi tudo.

Como Chico era em seu dia-a-dia?
Dinorá – Ele era uma pessoa muito boa, não tenho nem palavras para explicar sua bondade, parece que nos tornamos uma família. Embora convivesse diariamente com ele, achava que já tinha tarefa demais, então, quase não fazia perguntas. Chico sempre falava que, se eu chegasse e ele estivesse conversando, que não sentisse medo, pois estava com os espíritos. Quando ele se sentia mais forte, passava o dia escrevendo, parava somente para as refeições e o banho, além de andar com os papéis nas mãos por toda a casa. Mesmo depois de doente, ele sempre foi uma pessoa muito animada. Quando era dia de ir à Casa da Prece, eu lhe perguntava se não queria faltar, pois estava muito fraco, e ele dizia que precisava ir, que tinha um compromisso. Apesar de estar muito doente nos últimos tempos, com as mãos fracas, Chico nunca deu qualquer demonstração de desânimo.

Quais eram os horários dele?
Dinorá – Tudo sempre tinha o seu horário determinado. O café da manhã era por volta de 7h30, quando comia torrada com chá. Almoçava ao meio-dia, tomava banho às 17h e, uma hora depois, tomava o lanche da tarde, sua última refeição do dia, geralmente com algo bem leve, como uma sopa ou torrada com chá novamente.

Quais eram os pratos preferidos dele?
Dinorá – Uma sopa, um frango cozido com caldo, queijo assado no álcool. Inclusive, foi ele quem me ensinou a preparar. Mas o que ele adorava era doce, principalmente de leite e de cidra. Na época em que ainda tinha saúde, ele também gostava bastante de cozinhar e fazia isso muito bem, os doces dele eram muito saborosos.

O que Chico mais gostava de fazer?
Dinorá – Escrever e ler. Sempre que psicografava uma mensagem, ele a lia para mim.

Ele tinha gosto de ver televisão ou ouvir música?
Dinorá – Ele quase não via televisão, mas quando estava bem de saúde, gostava de escrever ouvindo música clássica em alto volume.

Para encerrar, como a senhora se sente ao ter trabalhado tanto tempo para uma pessoa tão amada e respeitada como Chico Xavier?
Dinorá – Ele sempre foi uma gracinha de pessoa, muito engraçadinho. Quando estava bem de saúde, ria das piadas que lhe contavam, parecia um menino. Valeu a pena cuidar dele durante todo esse tempo. Chico era uma pessoa bastante especial, com uma educação fora da conta, tratando a todos com muito carinho e respeito. Pouco antes de começar a trabalhar para ele, aconteceu uma coisa bem curiosa. Tive um sonho no qual a esposa do senhor para quem eu trabalhava na época me levava até o Chico, pois eu estava com muita dor de cabeça. Sentei na cama e ele me deu um passe. Então, senti algo como um chuveiro despejando uma água gostosa em minha cabeça e, em seguida, melhorei. Dias depois, fui trabalhar para o Chico e, ao entrar no quarto dele, vi que era para lá que havia ido no sonho.

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