
Sigmund Freud (1856-1939), criador da psicanálise, tinha uma explicação para a prevalência na história das sociedades humanas da crença na transcendência do espírito. Ela não difere muito da de Weber. "Podemos dizer que, para a psicanálise, conceitos como reencarnação e comunicação com os mortos servem de consolo para a angústia que sentimos diante da finitude", explica a psicanalista freudiana Karin Wondracek, professora da Escola Superior de Teologia de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul. De várias formas, os psicanalistas e os místicos estão atrás de respostas à mesma pergunta. O ser humano já foi definido como o único animal que sabe que vai morrer. É natural que a pergunta seguinte seja: o que vem depois?
Essa pergunta aparece nas obras mais ancestrais da cultura humana. Na cultura grega clássica era permitido às almas escolher novos seres para encarnar, fossem humanos ou animais. O ciclo de reencarnações e renascimentos é o núcleo do hinduísmo e do budismo, e estava na base da própria vida do Egito dos faraós. Não por acaso, eles eram sepultados com suas riquezas, para que pudessem desfrutá-las no outro mundo. Como os espíritas atuais, os egípcios acreditavam que só depois da morte a existência humana alcançava a plenitude. William Shakespeare reservou a um espírito um dos papéis principais de sua obra-prima, Hamlet. O pai do personagem-título, príncipe da Dinamarca, volta em forma de fantasma para lhe informar que fora morto pela mulher e seu amante, que lhe roubara o trono. O célebre diálogo dessa peça ("ser ou não ser") trata exatamente da angústia humana diante da impossibilidade de saber que sonhos trará o sono da morte.
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