DANIEL FILHO APOSTA EM RECORDE DE BILHETERIA COM CHICO

Exigente e com fama de mau, Daniel Filho se prepara
para a estreia de Chico Xavier, grande aposta do ano.

O que este armário está fazendo aqui de novo? Em toda novela você põe este armário. Eu não aguento mais’, gritou Daniel Filho, no início da gravação de “Pecado capital”, em 1975. O cenógrafo Mário Monteiro manteve a calma e apelou para o bom humor: “Daniel, você adora repetir o Tarcísio Meira em suas novelas, e eu não reclamo. Deixa o armário aí”. Daniel riu na época e até hoje ri de uma história que serve bem para indicar uma característica conhecida do ator, diretor e produtor: um nível alto de exigência, que eventualmente se transforma em broncas como a que Monteiro conseguiu evitar. Foi dessa forma que ele se tornou um dos mais bem-sucedidos profissionais de TV e cinema do Brasil. Mas, como consequência, também cultivou uma reputação não tão positiva. Uma fama de mau.

"Sei que já fui agressivo com muita gente, de estrelas a integrantes menores da equipe. Eu fui chefe durante muito tempo, e é muito difícil ser chefe sem fazer inimigos. Eu era obrigado a dizer muito mais “não” do que “sim” – justifica Daniel. – Mas, hoje, sou eu comigo mesmo. Escolho o que quero fazer. Tem muito projeto em que não entro para evitar aporrinhação".

O novo projeto de Daniel é o longa-metragem “Chico Xavier”, sobre o mais famoso médium do Brasil. Sua estreia, marcada para esta sexta-feira, não poderia ser mais bem escolhida por duas razões. A primeira é espiritual: sexta cai em 2 de abril, quando se comemoram os 100 anos de nascimento de Xavier. Em seus 92 anos de vida, o médium foi um fenômeno admirado por brasileiros de todas as religiões, e cujos mais de 400 livros venderam 30 milhões de exemplares. O filme, baseado na biografia “As Vidas de Chico Xavier”, de Marcel Souto Maior, vai naturalmente se aproveitar da popularidade de seu personagem e é uma das grandes apostas de blockbuster do ano. É aqui, então, que surge a segunda razão para a conveniência da data de estreia, esta bem terrena: será uma Sexta-Feira Santa, um feriado em que normalmente os cinemas ficam lotados.

Pensar em bons resultados de bilheteria quando se fala em Daniel Filho já até perdeu a graça. Em 2009, ele se tornou o campeão de espectadores dos últimos 20 anos do cinema brasileiro depois que “Se eu fosse você 2″ foi assistido por 6,1 milhões de pessoas. Em seu currículo também estão os 3,6 milhões de espectadores de “Se eu fosse você” (2006); 1,4 milhão de “A partilha” (2001); 1,2 milhão de “A dona da história” (2004); 1,3 milhão de “O casal” (1975); e por aí vai. E isso apenas como diretor. Se entrarem na conta os filmes em que Daniel participou da produção, aí a lista passa a incluir “2 filhos de Francisco” (5,3 milhões), “Cazuza” (3,1 milhões), “Cidade de Deus” (3,4 milhões) e pelo menos mais 30 longas.

Mas ficar só falando de números é uma redução do que o cinema de Daniel passou a significar no Brasil.

- A gente tem filmes de comédia, de ação, de aventura e do Daniel Filho. Ele virou um gênero. A gente espera por um filme dele como se espera por um filme do Scorsese – compara Jorge Peregrino, vice-presidente da Paramount para a América Latina e presidente do Sindicato dos Distribuidores do Rio de Janeiro.

Disputa pelo corte final

Daniel Filho nasceu em 30 de setembro de 1937. Sua paixão pelo cinema começou ainda garoto, frequentando as salas do Méier – o Cine Méier, o Mascote e o Para Todos. Um dos primeiros filmes a que assistiu foi “O fantasma de Canterville”, com a pequena Margaret O’Brien. Já a partir de 1948, morando em Copacabana, ele jura que passou a assistir a um filme por dia, prática que tenta manter até hoje, com a ajuda de uma videoteca de quatro mil DVDs.

Com 15 anos, Daniel já fazia teatro. Com 16, atuou no filme “Colégio de brotos”, de Carlos Manga. Com 19, foi para a TV Tupi, levado pela atriz Heloísa Helena. Com jeito de galã, participou de filmes célebres, como “Os cafajestes” (1962), de Ruy Guerra, e “Boca de ouro” (1963), de Nelson Pereira dos Santos. Em 1967, foi para a TV Globo, onde dirigiu mais de 30 minisséries e novelas, entre elas “Irmãos Coragem” (1970), “Selva de pedra” (1972), e “Dancin’ Days” (1978).

- Eu acho curiosa a popularidade que tenho com o público. A última novela em que atuei foi “Rainha da Sucata” (1990), mas estou marcado na alma do brasileiro como um cara de novelas – diz. – Nos meus filmes, procuro unir a qualidade do acabamento com o poder de comunicação. Quero que as pessoas não achem a história chata.

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