DIVALDO FRANCO FALA SOBRE INFÂNCIA, FELICIDADE E FÉ

Aos quatro anos de idade, “Di’’ brincava na sala de casa, quando uma senhora desconhecida entrou e pediu que chamasse sua mãe. O menino chamou. A mãe, Ana, apareceu, mas, como não viu qualquer outra pessoa na sala, reclamou com o filho e voltou a se debruçar sobre o que fazia. Era década de 30 e, o cenário, Feira de Santana, na Bahia. Ao contrário da mãe, Divaldo Pereira Franco enxergava e ouvia com toda a clareza a visita. “Di, diga a Ana que eu sou sua avó, Maria Senhorinha’’. À época, criança, ele não sabia o que era avó, nem que a partir dali embarcaria no mundo da mediunidade, aquele em que, segundo os espíritas, algumas pessoas podem servir de intermediárias entre os vivos e os espíritos dos mortos. “Tudo sempre foi muito natural para mim’’, diz, hoje, aos 82 anos, e tido como o maior difusor mundial do Espiritismo. Na entrevista a seguir ele fala de sua infância, da felicidade e tragédias. Confira.

E o que é felicidade?
A felicidade é a perfeita identificação entre o que parecemos e o que somos. Nossa proposta é: seja você mesmo. Nada obstante, para viver em sociedade dissimule os seus problemas. Porque a sociedade não te pode resolver. Nem seria lícito que nós exteriorizássemos nossos problemas a pretexto de ser leais com o grupo social. Mas a felicidade vem da harmonia interior do indivíduo perante a vida.

Como se busca a felicidade?
A busca da felicidade é um trabalho interior de transformação moral e de renovação emocional. Todos nós temos defeitos, que são problemas da nossa evolução antropológica. As heranças do instinto, agressividade, violência, o orgulho, o desejo de posse, a supremacia e as outras emoções perturbadoras como o medo e o ciúme. A busca da felicidade dar-se através da nossa mudança interior, cada dia lutando para sermos melhores que no dia anterior.

É uma busca difícil?
Não, não. Porque é uma questão de hábito. Não pode haver nada mais difícil do que falar, do que andar, do que cantar, do que exercer qualquer atividade cultural. Através do treinamento aquilo se torna tão natural que se incorpora a nossa vida. Daí dizer que os hábitos são uma segunda natureza. Se nós conseguirmos realizar um esforço moral para algumas mudanças estaremos numa situação de muita harmonia.

Para pessoas que passam por grandes tragédias, como a que ocorreu no Haiti, ou em Angra dos Reis, no Brasil, ainda é possível encontrar felicidade?
Sim, e nós temos exemplos no mundo inteiro. Naturalmente as pessoas emocionalmente mais débeis sentem-se destroçadas e se não receberem ajuda psicológica específica não saem da depressão, do desencanto nem do pessimismo. Mas, pode observar, há grandes vidas assinaladas por muitas tragédias, por doenças terríveis, e o indivíduo consegue superar. Determinados atletas mundiais, por exemplo, foram vítimas de paralisia, outros tiveram deficiência, outros tiveram lar muito modesto, mas esforçaram-se e conseguiram a meta que perseguiam.

Qual o segredo disso?
Primeiro, não ter auto compaixão. Porque, problema, todo mundo tem. E, de alguma forma, insucessos, tragédias, ocorrem no cotidiano de quase todas as pessoas. Umas emocionalmente mais frágeis voltam-se para dentro, para serem infelizes, para queixar-se, para lamentar. Outras, resolvem enfrentar o problema e então superam o desafio.

O que é a verdade?
É a paz interior. Existem três verdades do ponto de vista psicológico: a minha verdade, a sua verdade e a verdade real, que é aquela que a gente nem sempre alcança. Se acontece um crime e duas pessoas veem, cada uma conta de uma forma e o juiz terá que avaliar realmente o que aconteceu porque, para o nosso emocional, a verdade é o que nós sentimos e não aquilo que realmente representa a verdade.

Mas, qual é a melhor verdade na opinião do senhor?
É o indivíduo integrar-se no cosmo. Tornar-se útil, encontrar uma diretriz de segurança para ser feliz.

O senhor realiza esse tipo de evento há quanto tempo?
Há 63 anos.

Como o senhor define o Espiritismo?
É uma ciência que estuda a origem, a natureza, o destino dos espíritos e as relações com o mundo material. Essa é a definição dada por Alan Kardec. Eu diria que o espiritismo é uma ciência da filosofia, é a filosofia da religião e a religião da ciência.

E é uma ciência bem aceita pela sociedade?
Toda ideia nova enfrenta muitos preconceitos. E no começo do século XIX enfrentou três tipos de preconceitos. O preconceito religioso, o preconceito científico e o preconceito popular. O religioso dizia que eram propostas demoníacas, como fez com todas as ciências. E isso foi superado. Porque o essencial do espiritismo é a prática do bem, a transformação moral do indivíduo, a busca de Deus e o mal não pode fazer bem. Os cientistas diziam que os médiuns eram psicopatas. Portadores de alienação mental, de esquizofrenia, de epilepsia, no entanto as investigações disseram que os médiuns são paranormais. Portadores de sexto sentido. E a dificuldade popular era a da ignorância. que confundia o espiritismo com ao africanismo, com a bruxaria, com o xangô, essas questões que dizem muito respeito ao animismo cultural do nosso povo, mas está superado.

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