Juca de Oliveira não disfarça a dramaticidade nos momentos mais simples. Mesmo quando disseca o imponderável vilão Otto, de A Cura, da Globo, o ator não consegue despir a intensidade cênica. Aos 75 anos, este paulista de São Roque assume estar impressionado com o clima soturno que envolve seu personagem na produção de João Emanuel Carneiro. Na trama, Otto é um assassino cruel que chega a curar várias pessoas através de cirurgias espirituais. No entanto, também consegue ser delicado e até gentil com alguns personagens. "Ele é muito complexo, difícil de fazer. Me surpreende porque tem um caminho a cada episódio. Com ele, tenho trabalhado com o inesperado como há muito não fazia na TV", avaliou.
Nos últimos cinco anos, suas únicas atuações em TV foram participações em minisséries e seriados. Por que você tem sido um ator tão bissexto na tevê?
Quando recebi os cinco primeiros capítulos de A Cura, fiquei impressionado. Não consegui parar até acabar de ler tudo. Quando acabei, liguei para o (diretor Ricardo) Waddington chocado. Mas não faço tevê porque me dedico muito ao teatro. Todos os atores são muito supersticiosos. Temos sempre a crença profunda de que somos protegidos pelas musas. A musa da tragédia, que é a Melpômene, e a musa da comédia, que é a Tália. Eu tenho a estátua das duas na minha fazenda e na minha casa em São Paulo. Elas nos orientam. E os deuses são rancorosíssimos. Eles são generosos, ajudam, nos protegem, mas se vingam. Aqueles que abandonam o teatro são castigados. Quando faço teatro, só faço teatro, mesmo quando vem um grande convite. Digo que adoraria, mas não posso.
Como foi a composição do Otto, esse médico milagroso pai do personagem Dimas, do Selton Mello?
Minha pesquisa social foi ler a respeito, conversar com pessoas. Procurei contato com quem teve essas experiências de cura em cirurgias espirituais para pegar detalhes para construir com um pouco de credibilidade. Falei com conhecidos que sofreram operações espirituais e que se curaram.
Você chegou a fazer algum laboratório com médicos para as cenas de cirurgias?
Estudei muito o tema. Meu contato com isso aconteceu nos workshops. Vimos todos os "takes", inclusive de experiências científicas sobre os curandeiros, mas nunca presenciei nada. Vi experiências de médicos assistindo a curandeiros realizarem suas operações a sangue-frio, sem anestesia. E esses médicos não conseguiram constatar que estavam diante de alguma fraude. É muito estranho e chocante assistir a essas experiências. É claro que vivemos entre a realidade e o espiritual. Você nunca pode recusar a existência de uma força maior. Uns querem acreditar que existe a natureza, outros falam num Deus que orienta as ações dos homens. De qualquer forma, acredito que exista alguma coisa muito forte que coordena todas as nossas atitudes.
Você já se identificava com o tema antes do convite para o seriado?
Todo artista acredita muito na humanidade, que é possível melhorar o homem, que realizando seu trabalho você pode tornar as pessoas mais gentis, mais delicadas, mais solidárias, altruístas. Essa é a função da arte: melhorar o ser humano. Todos os artistas se identificam com algo superior. Seria inconcebível não acreditar nisso sendo um ator.
Você foi chamado pela Band News para fazer o programa O Devaneio, que entrou no lugar do programa O Quadrante, apresentado pelo Paulo Autran. Como está esse projeto?
Está lindo. São poemas, crônicas, humor dos mais importantes criadores daqui e do exterior, dos grandes gênios da poesia mundial. Estou sempre manipulando obras da criação espiritual, no nível mais alto. São obras densas e bonitas, poemas que tocam brutalmente as pessoas. Quando o Paulo morreu, os diretores da rádio Band News me convidaram para continuar com O Quadrante, mas eu disse que jamais poderia substituí-lo. Além de enorme amigo, era um excepcional ator. Passado algum tempo, eles insistiram e resolvemos fazer essa experiência com outro nome. Tem sido uma fantasia, um vôo da imaginação.
1 Comentários
Leio muito sobre esse assunto, estou adorando a minisserie A CURA, pois traz com muita veracidade a cirurgia espiritual,pois a ciencia ainda não consegue explicar os efeitos que causam a cura das pessoas, mas é simples... A FÉ, ela tem um poder que não pode ser medido cientificamente. Mas acredito que no futuro, religião e ciência possam caminhar juntos, e assim poder auxiliar e diagnosticar melhor as doenças fisicas e espirituais.
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