A HISTÓRIA DE VITOR - O DIA DA MINHA CIRURGIA

Vitor
Trecho do relato "A História de Vitor", um comovente depoimento do menino Vitor Lovison do Amaral, cuja história de apenas 12 anos (interrompida por um câncer) não o impediu de dar uma verdadeira lição de vida. A obra não se trata de literatura, mas de fato real, escrito por ele mesmo durante o curto período de 17 meses entre a descoberta da doença e sua partida. Segundo o pai, Carlos Alberto do Amaral, "Vitor apesar de sua doença e da situação de cadeirante a que ficou submetido, nunca reclamou e nem mesmo se revoltou com Deus ou com quem quer que seja". E conclui: "Sua passagem foi serena. Quando ele partiu se encontrava em seu quarto, em sua cama e, ao lado das pessoas que mais o amaram nesta vida. Foi um exemplo de vida e fé a ser seguido por todos que amam a vida." Suas últimas palavras, gravadas na porta de seu quarto, foram escritas com adesivos e foram: “Acreditem em si mesmo” e “Eu amo minha família”.

O blog Partida e Chegada publica, semanalmente, trechos desse diário infantil como incentivo a essa filosofia e firmando, uma vez mais, nossa certeza de continuidade da existência.
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O dia da minha cirurgia

No dia 28/04/07, num sábado, eu fui fazer uma ressonância magnética em Bauru. Era minha primeira vez, eu fiquei com medo de levar a agulhada do contraste. Eu achei meio estranho o barulho da máquina, mas eu fiquei calmo porque minha tia Léia e meu pai estavam lá.

Minha mãe e meu tio Fábio estavam me esperando lá fora, dando força. Depois do exame, eu esperei uns 20 minutos e apareceu o resultado com uma médica japonesa. Ela disse que eu tinha um tumor e fui direto para Botucatu aonde me internaram.

Já no outro dia me levaram para a cirurgia que durou 8 horas. É... 8 horas mesmo! Foi uma cirurgia microscópica. Depois disso eu consegui abrir o olho inteiro eu vi meu pai, minha mãe e minha tia Vânia e mais uma outra pessoa que ainda não sei quem era. Depois fui acordar só ás 6 da manhã. No outro dia não conseguia mexer as pernas e mal movimentava o pescoço e, pior de tudo, não controlava minhas fezes. Foi difícil acostumar com aquelas enfermeiras, até bonitinhas, enfiando um tubo no meu pipi para eu fazer xixi. Ai, como dói aquilo!

Foi difícil comer aquela comida de hospital, eu estava acostumado com a comida da minha mãe. Depois de um tempo eu comecei a receber muitas visitas, como tia Vanda, tia Léia, tia Vânia, minha vovó, meu vovô, meu tio Zezito, minha tia Ana Lúcia e meu tio Marcelo, mais conhecido como “Turco”.

Depois de um certo tempo, a minha médica Lied me deu alta e eu vim embora para casa. Que felicidade encontrar meus amigos e jogar vídeo-game. Eu jogava ainda os PS 1, mais até que era legal (o PS 2 vem em outro capítulo).

Veio um monte de gente rezar e até orar, e eu nem sou crente — olha que fizeram eu passar, que sacanagem fizeram comigo, eu nem podia sair correndo, dava vontade mais não conseguia. Fazer o que, eu só católico, será que não tava escrito na minha testa... Vinha até gente falar para eu virar são paulino e até um corintiano, que absurdo. Eu sou Palmeirense roxo! Somos campeões, não perdedores.

Bateu uma vontade de pescar. Meu pai e minha mãe me levaram no pesque-pague e, peguei um peixe corintiano. Por isso que o peixe tava com uma cara de tonto. Ele era tão feio que nem deveriam cobrar aquele peixe com cara de idiota, por isso que era corintiano, mas deu pra divertir. Além disso não peguei só aquele peixe, peguei mais dois e eram palmeirenses: eram bonitos. Assim, acabou a pescaria aquele dia.

Depois meu tio Fábio me convidou para um churrasco na casa dele, eu queria carne mal passada, que nós apelidamos de “aquela”. E, assim, foi uma boa parte da minha vida.

Vitor Lovison do Amaral

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