CLINT EASTWOOD ACERTA OUTRA VEZ EM 'ALÉM DA VIDA'

São mais de 60 filmes como ator, mais de 30 como diretor, premiações que já ultrapassam uma centena, e quase 82 anos de vida. Este é Clint Eastwood, o homem que acertou novamente em seu novo filme, o belíssimo drama “Além da Vida.”

O que há de melhor e mais prazeiroso na obra de Clint como diretor é a sua total, ampla, absoluta e deliciosa falta de pressa em dirigir suas cenas. Nestes tempos de gigantesca ansiedade e enorme superficialidade, onde as pessoas fazem tudo ao mesmo tempo e não se dão conta de nada que estão fazendo, seu cinema surge como um oásis de água doce no meio do deserto, uma pepita de ouro reluzente no meio da lama. Como ator que foi (e é), Clint abre sua câmera em generosos closes e dá ao seu elenco o tempo necessário para a maturação de cada emoção. Em planos extensos e profundos, sem medo da ditadura do corte rápido e da linguagem clipada. Com uma invejável elegância de movimentos e uma utilização minimalista de trilha sonora digna dos grandes mestres que conhecem a importância do silêncio.

Prestes a completar 82 anos (no próximo maio), Clint Eastwood se debruça desta vez sobre o tema da morte. A partir do roteiro de Peter Morgan (também roteirista de “Frost/Nixon”, “A Outra”, “A Rainha” e “O Último Rei da Escócia” entre vários outros sucessos), o filme mostra três histórias de três núcleos de personagens que – pelo menos num primeiro momento – não parecem ter ligações uns com os outros. Sequer geográficas.

A jornalista francesa Marie (Cécile De France) sofre um grande trauma durante suas férias na praia (por favor, não comentem com ninguém que ainda não viu o filme sobre esta cena) e tem dificuldades para retomar seu emprego em Paris. O norte-americano George (Matt Damon) é um vidente que abandona o dinheiro fácil que ganha cobrando pelas suas consultas paranormais para se transformar num simples operário braçal. E o garoto inglês Marcus (o estreante Frankie McLaren) está inconsolável com a perda de um parente extremamente próximo e querido.

Transtornados pela presença e/ou proximidade da morte, Marie, George e Marcus povocam uma ruptura radical em suas vidas para saírem em busca de respostas sobre a única certeza da vida: sua finitude. Melhor não dizer mais nada. Nem ver o péssimo trailer do filme que entrega alguns de seus momentos mais cruciais.

O título não ajuda, o poster também não é dos mais atraentes, o trailer é um desastre mas o filme é ótimo. O melhor a fazer é escolher a melhor poltrona, relaxar, e passar mais de duas horas sem pressa na companhia de um dos maiores cineastas vivos do nosso tempo. Um diretor que ainda sabe, como poucos, como contar uma boa história (ou no caso, três) no escurinho do cinema.

Ah, vale lembrar que um dos produtores de “Além da Vida” é Steven Spielberg.

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