Luiz Felipe Pondé, de 52 anos, é um raro exemplo de filósofo brasileiro que consegue conversar com o mundo para além dos muros acadêmicos. Seja na sua coluna semanal na Folha de S.Paulo, seja em livros como o recém-lançado "O Catolicismo Hoje" (Benvirá), ele sabe se comunicar com o grande público sem baratear suas idéias. Mais rara ainda é sua disposição em criticar certezas e lugares-comuns bem estabelecidos entre seus pares.
Veja a seguir trecho de sua entrevista à Veja (Edição de 13/07/2011), quando trata de religião, Deus e explica porque deixou de ser ateu.
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O senhor acredita em Deus?
Sim. Mas já fui ateu por muito tempo. Quando digo que acredito em Deus é porque acho essa uma das hipóteses mais elegantes em relação, por exemplo, à origem do universo. Não é que eu rejeite o acaso ou a violência implícitos no darwinismo — pelo contrário. Mas considero que o conceito de Deus na tradição ocidental é, em termos filasóficos, muito sofisticado. Lembro-me sempre de algo que o escritor inglês Chesterton dizia: não há problema em não acreditar em Deus; o problema é que quem deixa de acreditar em Deus começa a acreditar em qualquer outra bobagem, seja na história, na ciência ou em si mesmo, que é a coisa mais brega de todas. Só alguém muito alienado pode acreditar em si mesmo.
Minha posição teológica não é óbvia e confunde muito as pessoas. Opero no debate público assumindo os riscos do niilismo, e sou muitas vezes acusado de niilista. Quase nunca lanço a hipótese de Deus no debate moral, filosófico ou político. Do ponto de vista político, a importância que vejo na religião é outra. Para mim, ela é uma fonte de hábitos morais, e historicamente oferece resistência à tendência do estado moderno de querer fazer a cura das almas, como se dizia na Idade Média — querer se meter na vida moral das pessoas.
Por que o senhor deixou de ser ateu?
Comecei a achar o ateísmo aborrecido, do pontoo de vista filosófico. A hipótese do Deus bíblico, na qual estamos ligados a um enredo e um drama morais muito maiores do que o átomo, me atraiu. Sou basicamente pessimista, cético, descrente, quase na fronteira da melancolia. Mas tenho sorte sem merecê-la. Percebo uma certa beleza, uma certa misericórdia no mundo, que não consigo deduzir a partir dos seres humanos, tampouco de mim mesmo. Tenho a clara sensação de que às vezes acontecem milagres. Só encontro isso na tradição teológica.
A partir da Veja (13/07/2011). Leia no original
3 Comentários
Deus é supremo, Deus é infinito, Deus é Amor. Amo a Deus e ele me Ama.
ResponderExcluirDeus existe e tenho provas disso ele me ajudou na doença e me ajuda em problemas existenciais que por vezes surgem e que por vezes me sinto impotente para resolver, quando comecei a acreditar em Deus tudo mudou, Deus nos ama infinitamente
ResponderExcluir4. Onde podemos encontrar a prova da existência de Deus?
ResponderExcluir— Num axioma que aplicais às vossas ciências: não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem e vossa razão vos responderá.
Comentário de Kardec: Para crer em Deus é suficiente lançar os olhos às obras da criação. O universo existe; ele tem, portanto, uma causa. Duvidar da existência de Deus seria negar que todo efeito tem uma causa, e avançar que o nada pôde fazer alguma coisa.
5. Que conseqüência podemos tirar do sentimento intuitivo, que todos os homens trazem consigo, da existência de Deus?
— Que Deus existe; pois de onde lhes virá esse sentimento, se ele não se apoiasse em nada? E uma conseqüência do princípio de que não há efeito sem causa.
6. O sentimento íntimo da existência de Deus, que trazemos conosco, não seria o efeito da educação e o produto de idéias adquiridas?
— Se assim fosse, por que os vossos selvagens também teriam esse sentimento ?
Comentário de Kardec: Se o sentimento da existência de um ser supremo não fosse mais que o produto de um ensinamento, não seria universal e nem existiria, como as noções cientificas. senão entre os que tivessem podido receber esse ensinamento.
7. Poderíamos encontrar a causa primária da formação das coisas nas propriedades íntimas da matéria?
— Mas, então, qual seria a causa dessas propriedades? E sempre necessária uma causa primária.
Comentário de Kardec: Atribuir a formação primária das coisas às propriedades íntimas da matéria seria tomar o efeito pela causa, pois essas propriedades são em si mesmas um efeito, que deve ter uma causa.
8. Que pensar da opinião que atribui a formação primária a uma combinação fortuita da matéria, ou seja, ao acaso?
— Outro absurdo! Que homem de bom senso pode considerar o acaso como um ser inteligente? E, além disso, o que é o acaso? Nada!
Comentário de Kardec: A harmonia que regula as forças do universo revela combinações e fins determinados, e por isso mesmo um poder inteligente. Atribuir a formação primária ao acaso, seria uma falta de senso, porque o acaso é cego e não pode produzir efeitos inteligentes. Um acaso inteligente já não seria um acaso.
9. Onde se pode ver, na causa primária, uma inteligência suprema, superior a todas as outras?
— Tendes um provérbio que diz o seguinte: pela obra se conhece o autor. Pois bem: vede a obra e procurai o autor! É o orgulho que gera a incredulidade. O homem orgulhoso nada admite fora de si, e é por isso que se considera um espírito forte. Pobre ser, que um sopro de Deus pode abater!
Comentário de Kardec: Julga-se o poder de uma inteligência pelas suas obras. Como nenhum ser humano pode criar o que a Natureza produz, a causa primária há de estar numa inteligência superior à Humanidade.
Sejam quais forem os prodígios realizados pela inteligência humana esta inteligência tem também uma causa e, quanto maior for a sua realização maior deve ser a causa primária. Esta inteligência superior é a causa primária de todas as coisas qualquer que seja o nome pelo qual o homem a designe.
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