NÃO HÁ CASTIGO, MAS APRENDIZADO

Por que uns sofrem mais que os outros? Por que uns nascem na miséria e outros na riqueza? Muitas vezes, ao se deparar com o sofrimento, coloca-se em dúvida a justiça de Deus. Nestas horas, o entendimento sobre a imortalidade do espírito e a oportunidade de aprender com as experiências pode fazer toda a diferença



Se pisarmos numa lata, ela irá se deformar e jamais voltará a ter a forma anterior, ficando marcada para sempre. Agora, imagine alguém pisoteando uma esponja. O que acontece logo em seguida? Ela imediatamente recupera a sua forma original.

São essas as duas opções que temos ao reagir diante das adversidades da vida. Nas situações difíceis e de sofrimento, os homens se comportam sempre de uma das duas maneiras: como latas ou como esponjas.

Tal comparação foi feita pelo espírito Antônio Grimm, em recente mensagem psicofonada através do médium Maury Rodrigues da Cruz, em abril de 2012. "É preciso que vocês pensem um pouco sobre isso: se têm agido como latas ou como esponjas diante dos fatos da vida", afirma.

O Evangelho Segundo o Espiritismo (no capítulo V) faz várias indagações sobre o tema 'sofrimento e aflições'. "Por que uns sofrem mais que os outros? Por que uns nascem na miséria e outros na riqueza? Por que para uns nada dá certo e para outros o mundo parece sorrir?"

No entendimento alcançado pela Doutrina dos Espíritos, não existe castigo ou punição, mas causa e efeito. Quando se crê na imortalidade do espírito e na reencarnaçâo como sistema de aprendizado, torna-se mais fácil compreender e planejar a própria vida.

Tanto a dor física quanto a dor moral, representa da pelo arrependimento, por exemplo, podem ser comparadas com um alarme sinalizando que é necessário rever nossa maneira de pensar, falar e agir.

O Espiritismo afirma que a experiência material, terrena, é imprescindível para o crescimento. Isso porque a evolução do espírito se dá de maneira diferente no polissistema espiritual e no material. "Quando estamos encarnados, o grande significado é passar por algumas dificuldades, necessidades e desafios que nos tornam mais alertas ao próximo e ao imperativo de exercitarmos correções em nós mesmos", diz o sociólogo e teólogo espírita Guilherme Knopak. V

Ele comenta que, ao reencarnarmos em diferentes condições e culturas, vivenciamos problemas diferentes. "Isso contribui naquilo que já alcançamos de conhecimento e nos mobiliza para aquilo em que ainda somos falhos". Segundo o sociólogo, o sofrimento é um desequilíbrio em nós mesmos diante do quadro harmônico cósmico. "Ao agir de modo contrário a um funcionamento adequado ao nosso redor, as leis evolutivas inerentes em nós se manifestam por meio da dor, para revermos nosso comportamento", explica.

O sofrimento seria uma contínua sinalização para o aprendizado. "Mesmo quando sofremos excessivamente por um ente querido que se foi, esta dor sensibiliza para refletirmos o entendimento que temos sobre a vida", exemplifica Knopak.

COMO LIDAR COM A DOR?

Muitas vezes, quem sofre as conseqüências de um ato de violência cometido por outro ser humano, por uma doença ou por tragédia climática, inevitavelmente acaba questionando: 'Por que eu?'. "Mas o correto seria indagar-se: Por que não eu?", sugere Knopak. "Ou: O que eu tenho de tão especial que não posso estar submetido a essas variáveis?", diz ele.

A tragédia quando acontece não questiona as práticas e as crenças das pessoas, mas estas serão muito importantes no processo de recuperação. "Deus nos criou de um modo tão adequado, esperando que cada um cumpra sua parte. Então, nas situações de dor, ao invés de jogarmos a responsabilidade para ele, devemos reconhecer nosso recurso interno para superarmos tudo com construção de novos conhecimentos", sugere o sociólogo.

Segundo a ótica da Psicologia, cada um de nós é responsável para lidar com as suas situações de conflitos. "Não cabe atribuir a causa do sofrimento a outro, sentir culpa ou assumir o papel da vítima. Cada qual tem a tarefa de saber lidar e dar conta dos obstáculos que se colocam na sua existência", explica a psicóloga Gilka Correia.

"É com essa capacidade de ressignificação e confiando na capacidade de - semelhante à esponja - cada um que o trabalho do psicólogo se desenvolve", ensina. Segundo Gilka, a Doutrina Espírita se assemelha a essa posição com a sua concepção do livre-arbítrio, em que a pessoa se torna responsável pelas suas decisões e atos e está sempre sob a "lei de causa e efeito".

A psicóloga comenta ainda que o sofrimento tem um potencial de transformação que não pode ser negado. "Numa visão posterior, ao analisar o que já foi vivido, a pessoa percebe que houve mudança e renovação após um período de intenso sofrimento", diz. "Não mudaram os fatos, mas mudaram a ótica e a interpretação sobre os mesmos fatos, com aquisição de grande bagagem de aprendizagem e até de certa sabedoria, advinda da motivação que a impeliu para a mudança".

Ela ressalta que nem sempre é necessário existir uma 'ferida' para que tomemos atitudes de renovação. "Entretanto, são essas situações que podem gerar as grandes novidades na vida de uma pessoa", salienta. Gilka explica que, muitas vezes, a dor está por trás das grandes mudanças, criando um divisor de águas. "Mas isso sempre é percebido mais tarde, nunca no momento em que está em intenso sofrimento psíquico".
Simone Matos
A partir da Revista SER ESpírita (Ed. 19 - Junho/2012)

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