"Todas as vezes que passo pela sala olho para sua foto deitado naquela cama de hospital. Seu rosto está sereno, lindo como sempre foi; seus lábios esboçam um sorriso meio disfarçado, tímido (talvez devido à sua situação) mesmo assim ainda deixando transparecer um "que" de esperança, confiança fincada na fé de sua recuperação. Sua mão esquerda mantém erguido o dedo polegar numa expressão de "tudo ok". Eu lembro de cada detalhe daqueles dias: nossa união; o amor transbordando por todos os poros, a tentativa diária e firme de fazer tudo o que fosse necessário, possível e até impossível (com a força de nossos desejos mais profundos e espirituais) para seu tratamento, recuperação e cura completa.
Nossas conversas; minhas massagens em sua perna direita e braços tão machucados e arroxeados; as vezes que cortei e limpei suas unhas tão sujas de terra; cada copo d'água que dei em sua mão quando ainda tinha forças para segurá-lo e outros que, com minhas próprias mãos, aproximei de sua boca segurando o canudo com apreensão, pois o medo que engasgasse era enorme; cada colher de alimento que dei em sua boca (lembra, você falava: - mãe, põe toda a comida porque eu preciso ficar bem forte para sarar); cada carinho que fiz e beijo que dei em suas mãos, bochecha e testa; cada vez que falei: - meu filho querido, meu filho amado. Todas as orações e pedidos na esperança de ser ouvida e atendida; cada noite que o observava dormindo, iluminado apenas pela luz do celular e as lágrimas que molhavam meu rosto naqueles momentos.
Lembro de olhar pela janela e ver, na pracinha em frente, um ipê roxo carregado de flores e repetir, incansavelmente, a frase que ficou cravada em minha memória quase tanto quanto o calvário de Cristo pregado na cruz: - Tenha força, fé, confiança. Seja forte pois nós vamos sair daqui de mãos dadas com você andando e quando chegarmos na portaria você vai olhar para o céu, respirar profundamente enchendo os pulmões de ar e sentir a brisa fresca batendo em seu rosto.
Eu saí sozinha, 22 dias depois, chorando, sofrendo a maior dor que ninguém é capaz de medir e definir. O ipê manteve suas flores (sem cair uma sequer) durante o tempo que você esteve lá dentro. Naquela noite, num momento de questionamento olhei para o céu perguntando o "por quê" e deparei com aquela árvore totalmente nua de suas flores, todas elas caídas no chão. Elas também encerraram seu ciclo de vida ali, naquele 11.09.2012.
Escrevi três frases na sua foto:
- Eu estive aqui...
- Vivi isso com você...
- Nunca vou esquecer!!!
Também nunca vou parar de sofrer, chorar e viver mergulhada nesse pesadelo sem fim.
Aquele seu sinal de "positivo" me faz sonhar e imaginar que você está me dizendo:
- Mãe, eu tô legal agora. Vem me buscar!
Venha você me buscar meu filho. Eu sinto tanto a sua falta que não imagino a vida sem você!
Te amo Rafael! Me espere! Sua mãe..."
A partir da Comunidade QM. Leia no original
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