MEUS DIAS SEM TI (Parte 3 - Te amo mais que tudo)

Tu sabia, seu filho de uma grandessíssima puta. Tu só não teve a cara de pau de dizer pra mim, né? Como é que tu passa uma vida dizendo pra mãe que tu só viveria até os 57 e não me conta nada? Tu era um bosta, mesmo, meu alemãozinho. Um bosta.

Quando tu me disse, no ano passado, que preferia viver só mais um ano, mas do jeito que tu gostava, do que viver mais 10 cheio de privações, eu concordei. Sigo achando que é a melhor maneira de viver, mas tu não precisava ter levado a coisa tão ao pé da letra, né?

Sabe quem mais eu acho que sabia, pai? A Dodô. Sempre dizem que cachorros sentem as coisas e eu sempre acho que é aquela coisa de mãe ouvir o bebê balbuciando qualquer coisa querendo acreditar que ele tá dizendo “mamãe querida”. Mas a Dodô, pai… lembra que ela passou o domingo mal? Não comeu, ficou deitada em um cantinho, tremendo, e a gente achou que fosse frio? Fui até lá, abracei ela, tentei deixar ela quentinha até que a mãe buscasse uma coberta. Fechamos a porta pra não entrar vento e achamos que tava tudo resolvido. Não era frio, paizinho. Ela também sabia.

Ela também não comeu na segunda. Nem na terça. E quando te colocaram na ambulância ela vomitou compulsivamente. Uma vez atrás da outra.

Quando cheguei aqui em casa e vi aquele tanto de gente vestindo preto, de cara fechada (quando o normal era todo mundo de calção de banho e biquíni, com Heinekens com aquela casquinha de gelo ao redor que só tu sabia como gelar), eu também vomitei. Meu estômago não aguentou a ideia de enxergar essa casa sem ti. Tô atrasada, mas tô como a Dodô: sem comer. Não dá, paizinho. Não dá. Mas não te emputece: uma Heineken das tuas eu tô tomando de vez em quando. Em Porto Alegre, deixei um saquinho com a carne do último churrasco que tu assou. Por sorte, na terça de manhã, antes de sair pra trabalhar, algo me disse pra tirar aquilo da geladeira e colocar no freezer. Quando eu conseguir comer, eu vou fazer com essa carne o melhor carreteiro do mundo. Bem do jeito que tu gostava (tive que vir aqui adicionar o “va” depois de “gosta”: ainda não consigo escrever sobre ti no passado).

Mas, por enquanto, seu velhaquinho de merda, eu tô de cara contigo. Tu me contava tudo, pai. Podia ter me contado essa também.

(Te amo, meu velhinho de merda. Te amo mais que tudo.)

A partir de Medium Brasil. Leia no original
Imagem : freeimages

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